O presidente do Sinpro Rio,
Wanderley Quedo, proferiu a conferência de abertura com o tema “A escola
privada, os trabalhadores em educação e suas relações de trabalho”. Didático e com engajamento, Wanderley
historicizou as relações de trabalho desde o século 19, para desmistificar a
ideia de que o progresso é imanente no curso da história.
Para o historiador, “o que está
acontecendo na Europa é justamente o recuo de direitos dos trabalhadores”.
Mesmo assim, enfatizou: “dizer que o mundo está em crise é uma mentira”. A
Espanha recebeu 40 bilhões de euros, mas a maior parte desse recurso foi
destinada para salvar bancos e grandes corporações, enquanto isso amplia as
filas de trabalhadores para conseguir comida, roupa e moradia. Há estimativa,
comenta o sindicalista, é de que milhões de pessoas morram na Europa por falta
de abrigos e repoupas para suportar o frio. Um cenário desolador, mas que vai
ao encontro da ideia central, de que é preciso desnaturalizar as relações
instituídas na sociedade.
Neoliberalismo
Na década de 80 do século passado
início uma nova fase do capitalismo, alavancada principalmente com as ações do
presidente dos EUA, Ronald Reagan, e a “dama de ferro” da Inglaterra, Margareth
Thatcher, que resultou no enfraqueceu o Bem Estar Social e inseriu os países
capitalistas numa agenda neoliberal.
As relações de trabalho começaram
a alterar. Com a terceirização do trabalho, explica Wanderley, uma nova
realidade passou a fragilizar mais as relações de trabalho. Em gerações passadas,
era comum que trabalhadores estabelecerem laços de solidariedade pela identificação
de classe e pelo tempo de trabalho. “Antigamente o meu pai era operário. Ele
chegava e conversava com as mesmas pessoas. Se estabelecia laços de amizade, de
união, de parceria de trabalho”. Com a terceirização, o fluxo de trabalhadores
impede, talvez, a grande fonte de energia da classe, que se desenvolve na
empatia, na convivência entre trabalhadores.
O enfraquecimento do Estado, a flexibilização
das leis trabalhistas e os investimentos públicos na iniciativa privada
integram a agenda neoliberal. Atento as mudanças e aos contextos históricos no
cenário internacional e nacional, Wanderley procurou desnaturalizar o
desenvolvimento da sociedade. Aos moldes de um marxista, os trabalhadores
precisam construir sua própria história e não outorgá-la à classe dominante.
O presidente do Sinpro Rio ressaltou
a força da bancada privatista no congresso com sua agenda neoliberal e citou o
documento produzido pela Confederação Nacional da Indústria, com o titulo: “101
propostas da CNI para mudança na Legislação Trabalhista”. Entre elas, “a revogação
do intervalo de descanso de 15 minutos para mulheres antes da jornada
extraordinária (artigo 338 da CLT)”; “Propõe a extinção do salário mínimo
regional e dos pisos salariais estaduais”; “Propõe o estabelecimento de
critérios legais objetivos e adequados para caracterizar o trabalho escravo”; “Propõe
a extinção da multa adicional de 10% sobre o FGTS nos casos de demissão sem
justa causa”.
Em defesa da apropriação do discurso da classe trabalhadora
Na Grécia antiga, os mitos
ajudavam a explicar a origem da vida e das relações humanas. Mas, em certa
medida, servem como arquétipos para entender a sociedade em diferentes períodos
históricos. Como exemplo, o historiador citou o mito do Eco, de uma bela ninfa
dos bosques e das fontes, que após promover intriga no Olimpo teve como castigo
apenar repetir as últimas palavras de tudo o que ela ouvia. Por não conseguir
falar de seu encanto por Narciso, vê o belo moço mergulhar na sua própria
imagem, como se ele fosse engolido pela sua vaidade e individualismo. Desolada,
preferiu morrer nas pedras, quando tentava subir ao monte do Olimpo.
A sobrevivência da classe
trabalhadora depende de se apropria de sua própria voz, ecoar seu próprio
discurso, e não cair nos encantos do discurso ideológica, individualista e hedonista
da classe dominando.
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