sábado, 19 de janeiro de 2013

Por onde caminha a humanidade - Por onde caminha o trabalhador


O presidente do Sinpro Rio, Wanderley Quedo, proferiu a conferência de abertura com o tema “A escola privada, os trabalhadores em educação e suas relações de trabalho”.  Didático e com engajamento, Wanderley historicizou as relações de trabalho desde o século 19, para desmistificar a ideia de que o progresso é imanente no curso da história.

Para o historiador, “o que está acontecendo na Europa é justamente o recuo de direitos dos trabalhadores”. Mesmo assim, enfatizou: “dizer que o mundo está em crise é uma mentira”. A Espanha recebeu 40 bilhões de euros, mas a maior parte desse recurso foi destinada para salvar bancos e grandes corporações, enquanto isso amplia as filas de trabalhadores para conseguir comida, roupa e moradia. Há estimativa, comenta o sindicalista, é de que milhões de pessoas morram na Europa por falta de abrigos e repoupas para suportar o frio. Um cenário desolador, mas que vai ao encontro da ideia central, de que é preciso desnaturalizar as relações instituídas na sociedade.


 


Neoliberalismo

Na década de 80 do século passado início uma nova fase do capitalismo, alavancada principalmente com as ações do presidente dos EUA, Ronald Reagan, e a “dama de ferro” da Inglaterra, Margareth Thatcher, que resultou no enfraqueceu o Bem Estar Social e inseriu os países capitalistas numa agenda neoliberal.

As relações de trabalho começaram a alterar. Com a terceirização do trabalho, explica Wanderley, uma nova realidade passou a fragilizar mais as relações de trabalho. Em gerações passadas, era comum que trabalhadores estabelecerem laços de solidariedade pela identificação de classe e pelo tempo de trabalho. “Antigamente o meu pai era operário. Ele chegava e conversava com as mesmas pessoas. Se estabelecia laços de amizade, de união, de parceria de trabalho”. Com a terceirização, o fluxo de trabalhadores impede, talvez, a grande fonte de energia da classe, que se desenvolve na empatia, na convivência entre trabalhadores.

O enfraquecimento do Estado, a flexibilização das leis trabalhistas e os investimentos públicos na iniciativa privada integram a agenda neoliberal. Atento as mudanças e aos contextos históricos no cenário internacional e nacional, Wanderley procurou desnaturalizar o desenvolvimento da sociedade. Aos moldes de um marxista, os trabalhadores precisam construir sua própria história e não outorgá-la à classe dominante.

O presidente do Sinpro Rio ressaltou a força da bancada privatista no congresso com sua agenda neoliberal e citou o documento produzido pela Confederação Nacional da Indústria, com o titulo: “101 propostas da CNI para mudança na Legislação Trabalhista”. Entre elas, “a revogação do intervalo de descanso de 15 minutos para mulheres antes da jornada extraordinária (artigo 338 da CLT)”; “Propõe a extinção do salário mínimo regional e dos pisos salariais estaduais”; “Propõe o estabelecimento de critérios legais objetivos e adequados para caracterizar o trabalho escravo”; “Propõe a extinção da multa adicional de 10% sobre o FGTS nos casos de demissão sem justa causa”.

Em defesa da apropriação do discurso da classe trabalhadora

Na Grécia antiga, os mitos ajudavam a explicar a origem da vida e das relações humanas. Mas, em certa medida, servem como arquétipos para entender a sociedade em diferentes períodos históricos. Como exemplo, o historiador citou o mito do Eco, de uma bela ninfa dos bosques e das fontes, que após promover intriga no Olimpo teve como castigo apenar repetir as últimas palavras de tudo o que ela ouvia. Por não conseguir falar de seu encanto por Narciso, vê o belo moço mergulhar na sua própria imagem, como se ele fosse engolido pela sua vaidade e individualismo. Desolada, preferiu morrer nas pedras, quando tentava subir ao monte do Olimpo.

A sobrevivência da classe trabalhadora depende de se apropria de sua própria voz, ecoar seu próprio discurso, e não cair nos encantos do discurso ideológica, individualista e hedonista da classe dominando. 


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